Documento Sinodal - Comissão para a Comunicação

  
XII SÍNODO DOS BISPOS
COMISSÃO PARA A COMUNICAÇÃO

INTRODUÇÃO


            A fé e a razão, expressão muito cara a São João Paulo II, sempre foram as asas que nortearam o espírito humano (Cf. Carta Encíclica Fides et Ratio, Papa João Paulo II), desta maneira, o ser humano usando de sua inteligência e com o auxílio de Deus usufrui da natureza e seus recursos para seu bem e conforto. Um desejo sempre crescente no homem, desde de sua época primitiva, fora o anseio de comunicar-se. Desta maneira o homem, desde os primórdios, procura se comunicar e gravar a sua história desde as pinturas rupestres até na atualidade onde a internet domina os meios de comunicação, essa última tem a capacidade de movimentar a sociedade humana.

            As mídias sociais, de maneira especial a internet, são meios que se retamente empregados podem nos auxiliar, enriquecer e propagar o Reino de Deus, bem como pode nos ajudar a difundir aos jovens o nosso desejo ardente pela evangelização em meios digitais (cf. IM. n. 2). Porém, vale ressaltar que este meio tão profícuo pode ser usado para a perdição do homem, principalmente em um apostolado virtual, devemos ainda refletir muito sobre o mau uso desta mídia em nosso apostolado.

            Reunidos neste sagrado sínodo, é nosso dever enquanto pastores que buscam guiar o povo de Deus aos prados eternos, tratar de algumas questões pertinentes para o bom uso de nossas redes digitais, bem como um marketing fecundo de nossa Santa Igreja.


CAPÍTULO I

A Igreja e os meios de comunicação social


Os meios virtuais abriram diversas formas de evangelizar, buscando sempre a diversificação e a inovação presente atualmente. Entretanto, da mesma maneira, abriu-se espaço para divulgação da depravação e conteúdo malignos a nossa fé cristã.

Estando presente em um meio virtual, a Igreja, sinal visível do Reino de Deus, busca aproximar muitos jovens que da realidade se afastaram do Verbo Eterno e busca orientá-los na fé para uma vivência cristã autêntica na realidade. É de se notar a acessibilidade da juventude, que cada dia mais se afasta das missas dominicais presenciais e se aproxima das redes sociais vivendo uma fé virtual.

É inegável que os jovens se encontrem cada vez mais distante das Igrejas, um mal que não afeta apenas a fé Católica, mas diversas outras denominações. Um jeito simples de acessar essa pequena parcela do povo de Deus, é através dos novos meios de comunicação. Algo que boa parte do clero real vem relutando para essa mudança que é tão necessária para alcançar novos públicos.

Nosso fundador, o Papa Gregório, com o anseio de aproximar uma juventude cristã para mais perto de Deus e construir uma cultura de ajuda vocacional decidiu, impelido pelo Santo Espírito, criar uma Igreja Virtual dentro do Habbo, com o objetivo de evangelizar e alcançar novas almas para o redil santo do Senhor. Uma coisa que realmente deu certo e já perdura por 16 anos. Faz-se necessário, uma nova experiência de voltar ao primeiro amor (cf. Ap 2, 4) e tentar reascender em nossa juventude este anseio por Deus. Vale colocar diante de nossos olhos que a juventude de 16 anos atrás não é a mesma de hoje, os comportamentos mudaram e os lugares que eles se encontram também.

O público juvenil raramente entra no habbo, prova disso é o baixo número de ordenação e movimentação que temos atualmente. Acreditamos que seja hora de alcançar águas mais profundas (cf. Lc 5, 1), e buscar novas maneiras de conquistar clérigos e leigos para nosso clero virtual, como a atualização de redes sociais ou até mesmo a busca de outros jogos.

Entretanto, não podemos fechar os nossos olhos perante ao mal moral que veio se infiltrando dentro de nosso clero. Prova disso são os inúmeros escândalos de cunho sexual que vivenciamos alguns períodos atrás. Se faz imensamente necessário uma austera mudança de tratamento com aqueles que deturpam nosso clero virtual e buscam implantar as raízes pecaminosa do mal, isso tentou o antipapa Tiago I com o Motu Próprio ''Hæreditatem Christi'', porém é preciso endurecer ainda mais as penas para que este mal seja expurgado de nossa amada Igreja e investir na formação espiritual e intelectual de nosso clero, relembrando-os de nossa missão de apóstolos da Verdade neste meio virtual.

 

CAPÍTULO II

Restaura-nos mais uma vez, ó Deus (Salmo 85, 4)


            Somos seres de comunicação e relação. A comunicação faz com que eu possa entender e compreender os demais membros que formam o corpo místico do Senhor. Construindo uma comunicação eficaz somos interpelados pela necessidade de relações. Somos seres relacionais que desejam ardentemente levar o Reino de Deus que, segundo Orígenes, não é algo físico, mas é alguém, o próprio Cristo. Quando nos relacionamos com aqueles que desejam este mesmo ideal criamos laços e formamos a grande família divina.

            Porém, percebemos que nossa comunicação falha quando vemos os bancos de nossas igrejas, enquanto estruturas físicas vazios, pois não somos capazes de criar relações com o rebanho que o Senhor nos confia. No último sínodo, ao qual foi tratado da comunicação, se pediu temperança mediante a esses meios tecnológicos.

            Nós, religiosos e religiosas, precisamos entender que o mundo mudou e a nossa abordagem com a juventude também deve mudar. Precisamos avançar com certa diligência para outras plataformas e apresentar nosso apostolado: Instagram, TikTok, Youtube e o Twitter. Como foi profícuo para Santa Igreja o tempo em que tínhamos a rádio que animava nossos dias. É preciso certa modéstia em usá-la, porém se bem estruturada com programas, orações, transmissões de missas e momentos de lazer pode contribuir beneficamente para o nosso apostolado.

            Precisamos abordar com maior carinho em nossos Planos de Ação Evangelizadora de nossas arquidioceses e ordens religiosas o melhoramento da comunicação interna com os irmãos e depois externamente com o mundo atual e precisamos de clérigos que se aventurem e que gostem de comunicação para tomar a frente e se aventurar, sem medo, nas inúmeras possibilidades que a Internet nos oferece.

            Por fim, devemos lembrar que até nos meios de comunicação somos clérigos e devemos agir como tal, por isso evitem-se brigas, discussões mesquinhas, futilidades, mas que seja empregado tempo, inteligência em postagens que de fato possam ser querigmáticas e mistagógicas (cf. EG. n. 164), como pede o Papa Francisco na Evangelii Gaudium, para a comunidade leiga.


CAPÍTULO III

As mídias sociais como apoio à nova evangelização


            Na Carta Encíclica Evangelii Gaudium, uma continuação muito bem feita pelo Papa Francisco da Evangelii Nuntiandi de seu antecessor São Paulo VI, nos pede uma catequese que não seja doutrinal, mas sim querigmática (cf. EG. n. 164) e isso acontece quando nos tornando outros como Cristo (alter christus).

            Os meios de comunicação social já provaram que podem ser muito eficazes para a nova evangelização, desde vídeo aulas facilitando aos nossos seminaristas o aprendizado, até a divulgação de tantos trabalhos que por aqui fazemos. Nosso desafio é tentar chegar e perscrutar os corações de tantos jovens que vagam pelas redes sociais sem sentido. Devemos ajuda-los a dar sentido a sua existência. Mais uma vez, repetimos no presente documento, é necessário que clérigos tenham interesse pela comunicação e divulgação.

            Para que comunicação e missão andem juntas, se faz necessário um marketing católico, ou seja, um marketing voltado para a salvação das almas, baseado em nossas leis canônicas. Urge a necessidade de aperfeiçoar as estratégias de evangelização para podermos atingir o maior número de corações ardentes possível, por isso se faz necessário clérigos que se dediquem a essa maneira de evangelização e de apostolado, pois estarão fazendo aquilo que o próprio Senhor disse: “Ide ao mundo inteiro, proclamai o Evangelho a todas as criaturas. Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado” (Mc 16,15-16).

            Esse impulso já despertava no coração do papa Paulo VI, em 1975, a urgência de um novo ardor no anúncio do Evangelho, quando assim se expressou na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi: “As condições da sociedade obrigam-nos todos a rever os métodos, a procurar, por todos os meios ao alcance, estudar o modo de fazer chegar ao homem a mensagem cristã, única na qual ele poderá encontrar a resposta às suas interrogações e a força para a sua aplicação de solidariedade humana” (EN. n. 3).

            Diante dessa realidade, a Igreja, desde o Concílio Vaticano II, tem intensificado os meios para fazer com que a mensagem do Evangelho atinja esse homem que está imerso, de fato, num mundo que respira marketing. O Decreto Inter Mirifica afirma que “Entre os maravilhosos inventos da técnica que, principalmente nos nossos dias, o engenho humano extraiu, com a ajuda de Deus, das coisas criadas, a Santa Igreja acolhe e fomenta aqueles que dizem respeito, principalmente, ao espírito humano e abrem novos caminhos para comunicar facilmente notícias, ideias e ordens” (IM. n.1). Paulo VI acrescenta com a Exortação Apostólica Evangelii nuntiandi: “A Igreja se sentiria culpada perante o seu Senhor se não adotasse esses meios poderosos que a inteligência humana torna cada dia mais aperfeiçoados” (EN. n. 45).

            Agora é a nossa vez de olhar para a Igreja da realidade e nos configurarmos a este desejo de comunicar a Cristo diante da nova evangelização que está diante de nossos olhos.


CONCLUSÃO

            

            Diante de tantas luzes que lançamos nas trevas que estavam nos cegando, creio que se faz necessário após este sagrado sínodo, formar e reunir uma equipe de clérigos, com o coração ardente em comunicar o Cristo Senhor a todos, para a elaboração de uma Instrução Pastoral e que acompanhem o avanço destas perspectivas que aqui lançamos.

            Se faz necessário convidar aqueles homens e mulheres de boa vontade para que nos ajudem na construção de uma Igreja mais sinodal e para nos ajudar a nos empenharmos nestes meios e torna-los mais eficazes pois “como outrora nos antigos monumentos de arte, também agora, nas novas invenções deve ser glorificado o nome do Senhor, segundo a palavra do Apóstolo: “Jesus Cristo é o mesmo, ontem e hoje; ele o será para a eternidade!” (Hb 13,8)” (IM. n. 24).

            Por fim, “ao refletir sobre a Internet e outras mídias, devemos lembrar que Cristo é o "protótipo de comunicação" - as normas e modelos de métodos de comunicação adotados pela igreja, e a igreja tem a responsabilidade da comunicação. "Que os católicos que estão envolvidos em interação social com o mundo sejam mais corajosos e proclamem com ousadia a verdade de Jesus no telhado, para que todos os homens e mulheres possam ouvir o amor de Deus em Jesus Cristo, a autocomunicação de Jesus. Ainda ontem, hoje e eternidade” (Decreto Sinodal – Comissão para a Comunicação Social | X Sínodo dos Bispos).

 

Dom Fr. Raul Gabriel Card. Steiner, C.Ss.R

Presidente da Comissão para a Comunicação

 

Dom Fr. Caio Skol Medeiros, C.Ss.R

Auxiliar da Comissão para a Comunicação


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

            CONCÍLIO VATICANO II. Inter Mirifica. Decreto do Concílio Vaticano II Sobre os Meios de Comunicação Social. São Paulo: Paulinas, 2001.

DAMASCENO, DOM RAUL ALBERTI CARDEAL. Documento Sinodal – Comissão para a Comunicação Social. Sob o Pontificado do Papa João Paulo VII. In: https://xsinodo-icar.blogspot.com/p/ii-sinodo-dosleigos-x-sinodo-dosbispos.html.

JOÃO PAULO II, Mensagem para o XXIV Dia Mundial das Comunicações, 1990.

JOÃO PAULO II, Mensagem para o XXXV Dia Mundial das Comunicações, 27 de Maio de 2001.

            JOÃO PAULO II. Carta apostólica Fides et Ratio: sobre as relações entre fé e razão. São Paulo: Loyola, 1998.

            JOÃO PAULO II. Carta Encíclica Laborem exercens (Sobre o trabalho humano, por ocasião do nonagésimo aniversário da Rerum Novarum). São Paulo: Loyola, 1981.

JOÃO PAULO II. O Rápido Desenvolvimento. Vaticano, 2005. In: www.vatican.va.

            PAPA FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium: a alegria do Evangelho – Sobre o anúncio do Evangelho no mundo atual. São Paulo: Paulus/Loyola, 2013.

            PAULO VI. Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi. Vaticano: 1975. In: www.vatican.va.

PIO XI. Carta Encíclica Vigilanti cura. Vaticano: 1936. In: www.vatican.va.

            PIO XII. Carta Encíclica Miranda prorsus. Vaticano:1957. In: www.vatican.va.

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Igreja e Internet. Vaticano: 2002. In: www.vatican.va.

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Instrução Pastoral Communio et Progressio. Vaticano. In: www.vatican.va.

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA AS COMUNICAÇÕES SOCIAIS. Instrução Pastoral Aetatis Novae. Vaticano: 1991. In: www.vatican.va.

Propostas adaptadas e baseadas na carta: “Igreja e Internet” do Pontíficio Conselho para as Comunicações Sociais de 22 de fevereiro de 2002.